o_que_eu_posso_fazer

o que eu posso fazer se meus lábios estão cobertos de pó?

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agosto, 2007

O que eu posso fazer se meus lábios estão cobertos de pó? é uma reportagem especial sobre as bandas Mamma Cadela, Seychelles, deusComplexob e Ludov, assim como o principal lugar de encontro de todas essas bandas, a casa de Vanilson Rodrigues, nos Jardins (SP).

As fotografias são de Rodrigo Erib e Maraí Senkevics, com fotografias extras de Maíra Soares e Marília Vasconcellos. O PDF foi feito de modo a “explodir na tela”, cobrindo quaisquer outras coisas abertas no computador.





Introdução

Renato Cortez olha para cima. O cabelo cobrindo a testa, ele senta no chão devagar, mais ou menos um metro abaixo do palco. Seus dedos percorrem uma traquitana pequena e simples, posicionada frente aos joelhos, com a qual controla o ritmo luminoso da apresentação do Mamma Cadela. Os olhos vagueiam – observam os pássaros gigantes sobrevoando a cabeça de Ladislau, passando por Vanilson Rodrigues. Pousam no piano de cauda do MIS, onde as mãos de Pinchas se mexem rápida e compassadamente, junto com os tênis de pato, junto com os cabelos enrolados. Pinchas não consegue conter o sorriso e aos poucos sua visão começa a se focar no mesmo objeto da atenção de Renato. Uma cobra vermelha repousa por sobre o tampo do instrumento.

Ao leve toque de um indicador, o interior da cobra se acende e o comprido corpo que a acompanha carrega uma nova tonalidade ao outro extremo da banda, onde Ismael, banhado em amarelo, mergulha em um fone de ouvido para posicionar melhor a agulha do próximo sample. Ismael desiste. Deixa seu corpo cair e sente o sofá do ‘migué Estúdios’ envolvê-lo, recostando a cabeça para olhar o te to. Não chove mais lá fora. A apresentação no MIS está ainda há alguns dias de distância, de modo que Fernando Coelho repete sem pressa as notas para Guilherme Garbato, substituto de Pinchas no primeiro show de Araraquara – o anterior ao festival, marcado só para financiar a viagem. Pinchas estaria tocando com o Ludov em Natal.

A pasmaceira das paredes desenhadas por Pedrinho, Yasmin Flores e Alex Senna ostenta o bocejo de um Frank Zappa de cabelos laranja, agora incensado por uma leve fumaça que estaciona no ar e depois se esgueira de volta a Coelho, que não fala mais a Guilherme e sim a Renato, que não está mais à frente do palco e sim dentro dele . A cobra vermelha se encurva novamente a seu lado, obediente, mas desta vez ela se entoca como as entranhas da bateria de Chapolim. Logo acima, duas baquetas sustêm a hipnose grave de Mantra, a primeira música da primeira apresentação do Seychelles sendo entoada anos depois, no Teatro X. O tempo se dobra mais uma vez e somos pulsados de volta ao Aztech , onde tudo começou, quando Gustavo Garde começa a cantar: “O que eu posso fazer se os meus lábios, se meus armários estão cobertos de pó?”.

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Written by qazav_szaszak

24 de abril de 2008 às 18:51

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